EUGÊNIO MORAES

Peixes das áreas mais altas do rio aparecem mortos há uma semana
TRÊS MARIAS – A morte de peixes com mais de seis quilos ao longo do últimos dias preocupa moradores ribeirinhos e pescadores do médio São Francisco, nos municípios de Três Marias, São Gonçalo do Abaeté e Pirapora, na Região Central do Estado. Os primeiros exemplares apareceram moribundos ou boiando nas águas do Velho Chico em 26 de novembro.
Com a primeira forte chuva da estação, em 9 de dezembro, a quantidade aumentou. Estimativas dos pescadores apontam que mais de uma tonelada de peixes tenha aparecido morta desde então. O Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) e o Ministério Público vão investigar o caso.
As espécies mais atingidas são pacamã, mandi e surubim. Todos vivem na lama do fundo do rio. De acordo com especialistas, a morte destes animais geralmente está associada à poluição. A principal suspeita dos pescadores é de que o motivo esteja ligado à contaminação da bacia do Rio Abaeté. Os peixes mortos estavam abaixo do encontro do Abaeté com o São Francisco. Defensivos agrícolas, usados especialmente nas lavouras de café, teriam sido carregados pela chuva para o leito do rio.
A possibilidade de um vazamento da Votorantim Metais, no entanto, não está 100% descartada. A empresa possui uma grande represa de rejeitos exatamente ao lado do rio, no município de Três Marias.
Em setembro de 2005, o vazamento de rejeitos da mineração de zinco atingiu as águas, causando a mortandade de quase 30 toneladas de peixes. À época, a empresa foi considerada pelos órgãos ambientais responsável pelo vazamento, e assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para minimizar o problema.
Atualmente, de acordo com o gerente geral de negócios zinco da Votorantim do Brasil, Ricardo Barbosa, uma grande barragem de rejeitos está sendo construída. Com capacidade para cerca de 11 milhões de toneladas, vai receber todo o subproduto mineral da barragem vizinha ao Velho Chico.
O novo depósito, que recebeu o nome de Projeto Murici, também receberá todo o detrito dos próximos cinco anos de produção da empresa. A Votorantim Metais é uma das duas mineradoras de zinco de Minas Gerais. A outra fica em Juiz de Fora. A unidade de Três Marias produz 180 mil toneladas do metal por ano.
Apesar dos cuidados tomados, quem mora perto do rio ainda desconfia de falhas na empresa. Desde o início da última semana, peixes que habitam as áreas mais altas – como o dourado – também foram encontrados boiando.
Um deles foi flagrado pela reportagem na segunda-feira passada. “Foi muito peixe que desceu. Em um dia, mais de 60, todos grandes. Que eu contei, foram pelo menos uns 600 quilos só de surubim”, assegura o pescador Idael Ferreira Barbosa, 40 anos, que desde os 10 vive da pesca no São Francisco. “Veio muito pacamã, mandi, surubim. Isso nos primeiros dias. Depois, vi também dourado, piau e curimatã. Esse tanto de peixe morto não é normal. Tem alguma coisa errada”, diz.
De acordo com o sargento da Polícia Militar do Meio Ambiente Eduardo Figueiredo dos Santos, o fato é preocupante. “O que assusta é que a sequência de acontecimentos é exatamente igual à que registramos em 2005”. Segundo ele, que fez as primeiras ocorrências na época do último grande desastre ambiental na cidade, durante quase um mês apareceram peixes mortos. Até que, depois de uma forte chuva, o volume maior surgiu. “Queremos alertar as autoridades para detectarmos o problema antes que o pior aconteça”.
Para o pescador Antônio dos Reis Saraiva, 58 anos, nascido e criado na localidade de Pontal do Abaeté, às margens do São Francisco, a mortandade assusta. “Por dia, descem um ou dois peixes. Os companheiros também estão vendo. Todo mundo está preocupado, especialmente nesta época, que é importante para o rio”, destaca.
O pescador se refere à piracema, que vai de outubro a março. É quando fica proibida a pesca com rede e tarrafa, devido à reprodução dos animais. Cada pescador pode tirar da água até seis quilos de peixe ou um exemplar de espécie nativa por pescaria.
Piranha interdita Prainha
Principal ponto para banho em Três Marias, a Prainha, localizada logo abaixo das comportas da represa que tem o mesmo nome do município, foi interditada para banho uma semana antes do início do verão. O motivo: ataques de piranhas. Desde setembro, de acordo com o sargento Eduardo Figueiredo dos Santos, da Polícia Militar Ambiental, foram três boletins de ocorrência.
No último deles, no começo de dezembro, uma banhista perdeu a falange superior do dedo médio, mordido por uma piranha. “Tivemos que comunicar à Prefeitura e interditar o banho no local por tempo indeterminado. Mas algumas pessoas ainda se arriscam, e é possível que tenhamos mais ataques”.
A piranha é um peixe natural do Brasil, mas que não existia originalmente na bacia do São Francisco. É provável que os primeiros exemplares tenham sido trazidos por pescadores antes mesmo da construção da usina de Três Marias. A obra começou em 1957, com o então presidente Juscelino Kubitschek, e terminou em 1961.
Morte de peixes leva a protestos
Na semana passada, pescadores de Pirapora realizaram um protesto na praça central da cidade, depois de encontrarem cerca de 50 peixes mortos ou moribundos próximo à Ilha dos Prazeres. Os animais foram pendurados em um varal e expostos à população.
Desde 2008, um grupo de pescadores monitora a quantidade de peixes mortos no São Francisco. O trabalho é coordenado por pesquisadores ligados à Votorantim. Em 2010, até agora, o número de incidências está dentro dos parâmetros normais para o mês.
Fonte: Jornal Hoje em Dia
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